ÍNDIO DA TERRA GAÚCHA |
Paulo Moacir Ferreira Bambil
Índio parido da pampa
Às margens do Uruguai
Ficou logo sem mãe e pai,
Mas isso não prescindia…
Pois era a luz do dia,
Que a natureza acalanta
Protegendo do perigo.
Não conhecia inimigo.
Tigre que não se espanta!
Adotado por padre Jesuíta;
De idade desconhecida;
Preparado assim para a vida,
Lá em São Miguel Arcanjo.
Cresceu e virou marmanjo;
Numa bondade infinita.
Qüera taura e valente.
Exemplo aos descendentes
E todos que na terra habita!
Nomeado corregedor;
Do povo de São Miguel,
Fundando lá o seu quartel;
O supremo comandante.
Deixou a redução confiante,
Esse inteligente provedor,
Com grandes objetivos.
Tinha apreço aos nativos
E não gostava de invasor!
Aprendeu todos os enredos,
Na condução do povoado.
Foi pelos padres educado,
E em defesa da mãe terra,
Sempre pronto para a guerra.
Estrategista e sem medos,
Na formação dos soldados.
Lanceiros bem adestrados;
Depositários dos segredos!
Centauro em cima do flete;
Guardião da terra gaúcha;
Telurismo que lhe puxa,
Vigiando os Sete Povos;
Ensinando aos mais novos,
Como se compromete,
Para preservar a natureza,
Conservar dela a pureza.
Parte que nos compete!
Porém os dois reinados;
De Portugal e Espanha,
Do solo fizeram barganha.
E toda pampa missioneira,
Do litoral até a fronteira.
Vazia sem os povoados.
Trocada sem consentimento,
Pela Colônia de Sacramento.
Deixou o guerreiro revoltado!
Foi então que o índio Sepé,
Cria de São Luiz Gonzaga.
Convocou toda a indiada,
Pra defender o torrão;
Pois era parte desse chão.
E na batalha de Caiboaté,
Com denodo e galhardia;
Terçou ferro nesse dia;
Tombou! A alma ficou em pé!
Lavou a terra com sangue…
Abraçando-a devagarzinho.
Beijou ela com carinho.
Não ganhou esse troféu;
Mas bombeia ela, lá do céu.
É o dono do Rio Grande.
E desde pequeno curumim,
Já galopava do Chuí ao Erexim.
Deixe que o minuano te comande!
Hoje vejo índios sem terra,
Perdidos nas periferias,
Com a incerteza dos dias,
Passando necessidades,
Alienados das sociedades,
Sem os rios matas e serra.
Todos foram derrotados,
Mesmo sem ter peleiado.
“Nessa ímpia e injusta guerra”!
Cacique gaúcho; Rei sem trono;
Não percas nunca a tua fé,
Siga o catecismo de São Sepé.
Alce perna em teus cavalos;
Mostre a lança aos vassalos.
Gerações estão no abandono.
Tua arma? –É o teu idealismo.
Grite! Alto e sem cinismo!
“Esta Terra, ainda tem dono”!